quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Tudo ou nada?




E novamente me encontro aqui, em meio a esta rua movimentada, olhando para os carros que passam, sem saber ao certo se quero me jogar ao meio deles para acabar com a dor ou apenas por achar que em todos eles você está, sozinho, acompanhado... Tanto faz, não é mais da minha conta não é mesmo?

E novamente pago o preço, e caro, diga-se de passagem, por acreditar em você, mas não é culpa sua não, é culpa minha. A culpa é minha por saber quem você era e acreditar que poderia mudar, é culpa minha achar que você poderia amar alguém além de você mesmo, não te culpo por nada, a culpa é total e completamente minha.

Não vou te dizer nenhum daqueles textos decorados da Tati ou Martha apenas para me fingir de séria, madura, independente... Eu não sou nada disso, nós sabemos, não vou dar uma de autossuficiente, não dessa vez, porque qualquer pessoa pode me ver aqui parada na mesma rua que não para, te buscando no meio do movimento, te procurando em cada carro que passa apresado por mim, apenas esperando te encontrar para me atirar em frente ao seu carro gritando, como a louca que você me faz parecer, gritando as duas únicas opções que tenho para você...

AGORA É TUDO OU NADA! É TUDO OU NADA!! É TUDO OU NADA??

C.

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Gostaria apenas de lembrá-los que  nem todos os textos escritos por mim
são de histórias reais, quais deles são reais e quais são fictícios?
São como minha identidade, não conto pra ninguém!
C. 

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Nada é mais vulnerável que nosso desejo





Seus pais foram jantar fora e deixaram o apartamento só para você, seu namorado e a tevê a cabo. Que inconseqüentes! Em menos de um minuto vocês deixam a televisão falando sozinha e vão ensaiar umas cenas de amor no quartinho dos fundos. De repente, escutam o barulho da fechadura. Seu pai esqueceu o talão de cheques. Passos no corredor. Antes que você localize sua camiseta, sua mãe se materializa na porta. Parece que ela está brincando de estátua, mas não resta dúvida que entrou em estado de choque. Você diz o quê? Mãe, a carne é fraca. A desculpa é esfarrapada mas é legítima. Nada é mais vulnerável que nosso desejo. Na luta entre o cérebro e a pele, nunca dá empate. A pele sempre ganha de W.O. Você planeja terminar um relacionamento. Chegou à conclusão que não quer mais ter a seu lado uma pessoa distante, que não leva nada à sério, que vive contando piadinhas preconceituosas e que não parece estar muito apaixonado. Por que levar a história adiante? Melhor terminar tudo hoje mesmo. Marca um encontro. Ele chega no horário, você também. Começam a conversar. Você engata o assunto. Para sua surpresa, ele ficou triste. Não quer se separar de você. E para provar, segura seu rosto com as duas mãos e tasca-lhe um beijo. Danou-se. Onde foram parar as teorias, os diálogos que você planejou, a decisão que parecia irrevogável? Tomaram Doril. Você agora está sob os efeitos do cheiro dele, está rendida ao gosto dele, está ligada a ele pela derme e epiderme. A gravação do seu celular informa: seus neurônios estão fora da área de cobertura ou desligados. Isso nunca aconteceu com você? Reluto entre dar-lhe os parabéns ou os pêsames. Por um lado, é ótimo ter controle absoluto de todas as suas ações e reações, ter força suficiente para resistir ao próprio desejo. Por outro lado, como é bom dar folga ao nosso raciocínio e deixar-se seduzir, sem ficar calculando perdas e danos, apenas dando-se ao luxo de viver o seu dia de Pigmaleão. A carne é fraca, mas você tem que ser forte, é o que recomendam todos. Tente, ao menos de vez em quando, ser sexualmente vegetariano e não ceder às tentações. Se conseguir, bravo: terá as rédeas de seu destino na mão. Mas se não der certo, console-se. Criaturas que derretem-se, entregam-se, consomem-se e não sabem negar-se costumam trazer um sorriso enigmático nos lábios. Alguma recompensa há de ter.

Matha Medeiros